A gota é uma doença reumatológica, inflamatória e metabólica, que cursa com hiperuricemia (elevação dos níveis de ácido úrico no sangue) e é resultante da deposição de cristais do ácido nos tecidos e articulações que desencadeia fenómenos inflamatórios.
A gota geralmente manifesta-se como uma artrite iniciada durante a madrugada, caracterizada por uma inflamação articular evidenciado com calor, rubor, edema (inchaço) e extrema dor. Mais frequentemente acomete uma única articulação ("junta"), principalmente primeira hálux ("dedão"), dorso do pé e tornozelo, mas com a evolução da doença qualquer articulação pode ser acometida. A chamada "crise" de gota geralmente tem duração de 5 a 7 dias com resolução espontânea, entrando num período intercrítico (assintomático), até a próxima crise (período 3 meses a 2 anos). Nos pacientes sem tratamento esse período intercrítico tende a se tornar progressivamente menor e as crises mais duradouras; nesses casos pode haver acometimento de mais de uma articulação.
TratamentoOs exames laboratoriais geralmente mostram elevação dos níveis de ácido úrico no sangue - hiperuricemia(> 7mg/dl para homem / > 6mg/dl para mulheres). Somente a presença de hiperuricemia não permite fazer o diagnóstico de gota.
É importante ressaltar que a gota não é uma doença grave, mas está muito associada a outras doenças potencialmente graves como a hipertensão arterial, a dislipidemia (elevação dos níveis de colesterol e triglicérides), o diabete e a obesidade. Desse modo, é fundamental aferir a pressão arterial e dosar os níveis de colesterol, triglicérides e glicose no sangue
O ácido úrico é o produto final do metabolismo das purinas. O nível de ácido úrico aumenta de forma anormal quando os rins não conseguem eliminar uma quantidade suficiente na urina ou, por outro lado, o organismo também pode produzir quantidades muito grandes de ácido úrico devido a uma anormalidade enzimática hereditária. Quando o ácido úrico não é eliminado eficazmente, aumenta a sua concentração no sangue, uma situação denominada hiperuricemia. Quando isso acontece, pode formar cristais de uratos que se vão acumular nos tecidos e nas articulações (gota), e se se acumulam no rim, fazem-no sob a forma de cálculos (um dos tipos de "pedra" no rim), manifestando-se por episódios recorrentes de cólica renal.
A maioria dos indivíduos com níveis de ácido úrico elevados não desenvolve gota: em 75 por cento dos casos, a hiperuricemia é assintomática. A hiperuricemia é um factor de risco para doenças cardiovasculares e renais, pelo que o valor de ácido úrico sanguíneo deverá ser mantido dentro dos valores de referência.
O tratamento da gota envolve orientar a dieta, tratar as doenças associadas, tratar as crises e normalizar os níveis de ácido úrico no sangue. Quanto a dieta, deve-se diminuir a ingestão de alimentos ricos em proteínas, tais como carnes vermelhas, frutos do mar, miúdos, embutidos, além da abstinência alcoólica. Orientar a redução do peso. Na crise, indica-se o uso de analgésicos, colchicina e compressa de gelo local. A redução dos níveis de ácido úrico é feita com fármacos específicos tais como alopurinol e benzobromarona.
Cuidados Alimentares
A alimentação do doente com hiperuricemia ou com gota deve ser rica em alimentos de origem vegetal, uma vez que estes alimentos são ricos em citratos, que alcalinizam a urina (aumentam o ph). Os alimentos de origem animal devem ser consumidos com moderação, uma vez que a proteína de origem animal contribui para aumentar a acidez da urina (diminuem o seu ph).
Uma vez que a hiperuricemia está frequentemente associada a outras patologias (diabetes, obesidade, dislipidemias), recomenda-se:
-Tomar diariamente o pequeno-almoço e comer a intervalos não superiores a 3,5 horas.
-Ingerir cerca de 2 a 3 litros de líquidos por dia, sob a forma de água, infusões de ervas ou outras bebidas alcalinizantes (sumos naturais de fruta e/ou legumes).
-Consumir alimentos de origem vegetal que alcalinizam a urina e estimulam a diurese, como a melancia, o melão, o morango, o pepino, a abóbora, a pimpinela, o alho francês, o aipo, entre outros;-Uma vez que as purinas são solúveis em água, a técnica culinária mais recomendada para carnes e pescado é a cozedura, tendo o cuidado de rejeitar o seu líquido (por exemplo, não consumir a água da canja, do caldo, da caldeira).
-Evitar o consumo de refrigerantes, açúcar e alimentos que o contenham.
-Evitar o consumo exagerado de sal;-Reduzir ou eliminar totalmente o consumo de bebidas alcoólicas, e com especial atenção para a cerveja (com e sem álcool).
-Moderar o consumo de café e chá preto
- Pela sua riqueza em purinas, restringir os seguintes alimentos: pescado (arenque, cavala, anchova, ovas de peixe, bacalhau, salmão, sardinha, marisco, lulas, polvo, chocos); carnes novas (vitela, borrego, cabrito, leitão), carne de caça, miudezas e vísceras (miolos, rim, fígado), enchidos e fumados (chouriço, presunto), produtos de salsicharia, cubos concentrados de carne ou peixe, sopas instantâneas à base de carne ou marisco; leguminosas (feijão, grão, lentilhas, ervilhas); alguns legumes (espargos, couve-flor, cogumelos, espinafres).
-Consumir em pequenas quantidades, com moderação: pescado (com excepção dos anteriores; ex. carapau, pescada, corvina, pargo, vermelhão), carnes (vaca, peru, galinha); - Privilegiar o consumo de fruta e sumos de frutas (mesmo as ácidas), lacticínios meio gordos ou magros, ovos, legumes (com excepção dos anteriores), arroz e outros cereais, massa, batata, pão.
Devem evitar-se factores precipitantes das crises, nomeadamente esforços intensos, abusos alimentares e alcoólicos.
É de fundamental importância consultar um médico capacitado para poder fazer o diagnóstico e tratamento adequados